Data de início e término: 01.2023 – 01.01.2026
Resumo: Este projeto representa o primeiro estudo apoiado em seis disciplinas (osteologia, arqueologia, história, química, paleoparasitologia e genómica) para melhor compreender a saúde dos militares no passado e de como estes eram tratados. Os resultados desta investigação tornar-se-ão em novas ferramentas para historiadores que estudam história militar, ciência, medicina e cuidados prestados aos doentes, fornecendo-lhes não apenas novos dados com que trabalhar, mas também novas metodologias e estratégias de amostragem.
O estudo de vestígios humanos fornece uma janela direta para a vida das populações do passado, principalmente quando combinado com outras metodologias. A análise osteológica permite reconstruir o perfil biológico (sexo, idade à morte, estatura…) e estado de saúde (doenças, indicadores de stress fisiológico…) dos indivíduos possibilitando selecionar os esqueletos para os quais seria mais relevante aplicar outros tipos de análises.
Recentemente,metodologias desenvolvidas em diferentes disciplinas têm sido mais frequentemente aplicadas às ciências sociais,como por exemplo a história. Análises de ADN, por exemplo,podem identificar agentes patogénicos responsáveis por doenças como a peste e a influenza, mas também relacionar uma doença específica a descrições vagas de sintomas em registos históricos e lesões esqueléticas ambíguas. Os isótopos estáveis e os oligoelementos fornecem informações acerca da dieta dos indivíduos e possíveis alterações de hábitos alimentares, migrações e consumo de medicamentos. A parasitologia pode também ajudar a reconstruir hábitos alimentares e técnicas de preparação de alimentos, além de identificar parasitas que podem afetar a saúde dos indivíduos.
A equipa multidisciplinar neste projeto combina várias especialidades (desde as ciências naturais até às humanidades) que irão trabalhar em conjunto para alcançar os objetivos do estudo: 1) Identificar parasitas e agente patogénicos a afetar a saúde dos soldados; 2) Relacionar valas comuns com possíveis epidemias; 3) Identificar toma de medicamentos e outros tratamentos; 4) Conhecer melhor os hospitais e tratamentos médicos; 5) Conhecer melhor avida militar.
Sabendo que a saúde pode-se refletir em indicadores de stress fisiológico e lesões esqueléticas, este projeto combina análises osteológicas, arqueométricas e históricas para investigar a relação entre a dieta, saúde e tratamentos prestados em hospitais militares entre os séculos XVII e XVIII. Este estudo melhorará o nosso conhecimento acerca dos cuidados de saúde prestados em períodos históricos, fornecendo diferenças diretas entre períodos de tempo antes, durante e depois da doença. Será possível, por exemplo, saber como o mercúrio era utilizado para tratar doenças em Portugal: que doenças eram tratadas desta forma e se esses tratamentos eram aplicados frequentemente.
Este projeto terá como material de estudo uma coleção osteológica (com 947 indivíduos) associada ao Hospital Militar do Castelo de São Jorge em Lisboa, utilizado entre os séculos XVII e XVIII. Os registos históricos e arqueológicos serão comparados com dados osteológicos, genéticos,químicos e parasitológicos de forma a reconstruir a vida dos indivíduos, de onde eram originários, a sua dieta antes de depois de serem hospitalizados, as doenças e parasitas que os afetavam e substâncias utilizadas para tratamentos, como por exemplo o mercúrio. Modelos de regressão de Cox serão utilizados para avaliar diferenças entre sobrevivência e análises de sobreviventes/não-sobreviventes, de modo a inferir diferenças de frequências e severidade de lesões entre as diferentes fases de utilização do cemitério. Este projeto segue a linha de investigação iniciada pela PI durante o seu
doutoramento, o qual foi financiado pela University of Kent 50th Anniversary Scholarship. Durante esse doutoramento a PI desenvolveu uma nova estratégia de amostragem, a qual será a chave para o sucesso do atual projeto, e tornou a PI numa referência no estudo da sinergia entre dieta, saúde e metabolismo em populações do passado. A investigação anteriormente levada a cabo pela co-PI, uma historiadora com vasta experiência no estudo da saúde e cuidados médicos, irá permitir enquadrar historicamente os dados recolhidos pelas diferentes disciplinas neste projeto.
Coordenador: Ana Rita Quito Curto
Participantes: Sofia Wasterlain (CIAS), Ana Amarante (CIAS), Liliana Matias de Carvalho (CIAS)
Instituições Parceiras: Universidade de Évora, Laboratório HERCULES – Herança Cultural Estudos e Salvaguarda, Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades, Universidade de Coimbra, Centro de Investigação em Antropologia e Saúde, Universidad Complutense de Madrid – Departamento de Medicina Legal, Psiquiatría y Patología, Universidade de Lisboa, Centro de História, Chrono-environment laboratory – Université de Bourgogne Franche-Comté, EON, Indústrias Criativas Ltda
Apoio Financeiro: Fundação para a Ciência e Tecnologia
Referência: 2022.03576.PTDC