Data de início e término: 2023-2024
Resumo: O âmbar é uma resina fóssil que tem um valor social desde o Paleolítico Superior. Este facto deve-se às suas características naturais únicas, que o tornaram amplamente utilizado e socialmente valorizado ao longo da pré-história, especialmente como elemento decorativo e simbólico. A costa do Báltico e a Sicília são as principais fontes naturais de âmbar exploradas na pré-história. Desde o início da investigação moderna, a presença de âmbar fora destas regiões foi utilizada como indicador da existência de redes de trocas a longa distância (de Navarro, 1925), pelo que o âmbar foi considerado um material exótico e de prestígio. Nesta base, estabeleceu-se uma sólida tradição de investigação para identificar a origem dos objectos de âmbar (Beck, 1995; Beck et al., 1965, 1964; Beck e Hartnett, 1993), o que levou à identificação de padrões espácio-temporais do seu consumo. A caracterização de ornamentos pré-históricos em âmbar tem sido amplamente abordada nos últimos anos (Murillo-Barroso et al., 2018; Murillo-Barroso e Martinón-Torres, 2012; Odriozola et al., 2019b), dada a forte tradição de estudos sobre esta matéria-prima de elevado valor simbólico.
As análises de espetroscopia de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) confirmaram o intercâmbio de longa distância como a principal forma de acesso ao âmbar, permitindo a identificação de duas tendências de grande escala nos fluxos de intercâmbio, partindo da Sicília no 4º-3º milénio a.C. e oscilando para o Mar Báltico a partir do 2º milénio a.C. (Odriozola et al., 2019b). Apesar desta tendência exógena, nas últimas décadas o foco também tem sido colocado nos depósitos geológicos de âmbar ibérico, com a documentação de diferentes fontes locais de âmbar na costa cantábrica (Álvarez Fernández et al., 2005; Murillo-Barroso et al., 2018). Por outro lado, numerosos afloramentos locais de âmbar continuam por caracterizar, como os que se situam entre os estuários do Tejo e do Mondego em Portugal (Peñalver et al., 2018). Apesar do reconhecido intercâmbio a longa distância do âmbar do Báltico e da Sicília, e da falta de um registo espectral abrangente do âmbar português, os cientistas sugeriram recentemente que o âmbar siciliano e o âmbar português têm características espectrais semelhantes, comprometendo a identificação da origem. O consumo de âmbar local em vez de âmbar estrangeiro mudaria assim completamente a imagem de uma Europa unida.
IberAmber é um projeto concebido e desenhado de forma multidisciplinar, utilizando técnicas químico-analíticas, métodos estatísticos clássicos e abordagens mais modernas como a aprendizagem automática para aprofundar o conhecimento arqueológico do comércio e intercâmbio de âmbar. Os principais objectivos são: localizar depósitos de âmbar; caracterizar os depósitos de âmbar por meio de FTIR, GC-MS e 13C-MAS-NMR, a fim de obter informações mais detalhadas sobre a composição química dos depósitos, os processos de envelhecimento e a origem botânica do âmbar; criar uma biblioteca espectral de referência do âmbar português; gerar uma ferramenta de classificação por análise estatística supervisionada do âmbar geológico; fornecer uma aplicação web que preveja a origem dos artefactos arqueológicos de âmbar através das suas assinaturas FTIR.
Com o objetivo de criar uma biblioteca de espectros de referência padronizados para cada depósito, a IberAmber pretende localizar e caracterizar quimicamente os depósitos de âmbar portugueses. Os espectros de referência padronizados dos depósitos de âmbar serão então utilizados como uma impressão digital dos depósitos de âmbar portugueses. Estes, por sua vez, serão posteriormente comparados com os espectros de artefactos arqueológicos para determinar a sua origem.
Coordenador: Carlos P. Odriozola Lloret
Participantes: José Eduardo de Oliveira (FCUL) ; Ana Catarina Sousa (UNIARQ/FLUL); João Daniel Casal duarte (FCUL); José María Martínez Blanes (Universidade de Sevilha);José Ángel Garrido Cordero (UNIARQ/FLUL);
Daniel Sánchez Gómez (UNIARQ/FLUL); Maria Dolores Zambrana Vega (Universidade de Sevilha); Jose Luis Molina Gonzalez (Universidade de Sevilha); Victor S. Gonçalves (UNIARQ/FLUL); Cátia Delicado (UNIARQ/FLUL, CIAS/FLUC)
André Texugo (UNIARQ/FLUL, CEG) e Daniel van Calker (UNIARQ/FLUL).
Instituições Parceiras: Universidade de Sevilha e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Apoio Financeiro: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: 2022.09207.PTDC