Data de início e término: 2021-2026
Resumo:
O tempo de ecrã (TE) — ou seja, televisão, computador, jogos eletrónicos, tablets e smartphones — é um comportamento prevalente ao longo da vida, particularmente problemático entre crianças, e frequentemente associado a um estilo de vida sedentário. O aumento do uso de dispositivos móveis e o fácil acesso a conteúdos ilimitados podem estar a originar novos padrões de consumo, expondo os jovens a riscos para a saúde e a uma esperança de vida mais curta e/ou com piores condições de saúde. Evidência proveniente de estudos observacionais e experimentais sustenta uma relação direta entre o TE e a obesidade em crianças, adolescentes e adultos; mais recentemente, tem sido descrita uma associação entre ver televisão e resultados negativos ao nível da saúde mental. Apesar da acumulação de dados provenientes de estudos transversais que demonstram associações negativas entre o tempo de ecrã e a saúde, pouco se sabe sobre os padrões longitudinais de mudança na exposição ao ecrã ao longo das etapas da vida — desde a primeira infância até à adolescência e idade adulta jovem — e como estes se relacionam com desfechos de saúde na infância e na vida adulta. Até à data, apenas três estudos a nível mundial investigaram os efeitos a longo prazo da exposição ao ecrã durante a infância, ligando o tempo a ver televisão em crianças a um maior índice de massa corporal na idade adulta. Além disso, a maioria dos estudos limita-se a reportar um único coeficiente de rastreio, utiliza modelos simplificados que não captam a complexidade dos padrões longitudinais de exposição ao ecrã, e não considera o uso dos dispositivos modernos. Para assegurar o crescimento e bem-estar das crianças, é fundamental dispor de dados atualizados e fiáveis sobre saúde, tempo de ecrã, nutrição, entre outros fatores essenciais. Através do desenho de um estudo longitudinal com crianças em idade pré-escolar (dos 3 aos 5 anos) do concelho de Coimbra, este projeto irá explorar os padrões de uso de dispositivos com ecrã e de que forma essa exposição contribui para a carga de obesidade, depressão, ansiedade e stress manifestados precocemente. O estudo dos primeiros anos de vida é essencial, pois é nessa fase que se constroem as bases para um percurso de vida saudável, com comportamentos aprendidos que influenciam o desenvolvimento futuro e apoiam uma sociedade e economia nacionais fortes. Entre os objetivos específicos deste plano estão a estimativa do uso de ecrãs tradicionais (TV, computador, jogos eletrónicos) e de novos meios (tablets, smartphones); a identificação de trajetórias e fatores associados ao TE; e a análise das desigualdades socioeconómicas nas relações entre o uso de ecrã, obesidade infantil e problemas de saúde mental ao longo de períodos críticos de desenvolvimento. Será ainda investigado o possível efeito moderador de outros fatores (como a atividade física) na relação entre exposição ao ecrã, obesidade e saúde mental. Os resultados permitirão identificar janelas de oportunidade para intervenções destinadas a reduzir o tempo de ecrã, a obesidade e os problemas de saúde mental, com impactos positivos no bem-estar individual, produtividade e economia, além de contribuírem para o avanço do conhecimento científico.
Coordenador: Daniela Rodrigues
Apoio Financeiro: FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia, 3ª Edição do Concurso de Estímulo ao Emprego Científico
Referência: 2020.03966.CEEIND